A realidade costuma ser a maior inimiga dos discursos políticos. Aquilo que é dito com facilidade em uma campanha eleitoral acaba se tornando inexequível quando o candidato assume o poder. Também é costumeiro que práticas se modifiquem. O sujeito se elege pregando uma coisa e faz exatamente o contrário. O caso mais patente é o de Dilma Rouseff, que foi reeleita prometendo prosperidade mas precisou nomear um economista ortodoxo para fazer ajustar uma economia falida. O resto, como o leitor deve lembrar, é história.
Em Porto Alegre, cidade que se encontra em colapso financeiro, o prefeito Nelson Marchezan Júnior mudou radicalmente de postura, abandonando as críticas que fazia ao aumento de impostos. Batia tanto na tecla que ganhou o apoio do Movimento Brasil Livre, que foi para as ruas pedir votos para ele. Aqui vai uma declaração do atual prefeito na época em que concorria ao cargo que hoje ocupa:
"Eu posso garantir que a ferramenta que eu vou usar ñ será o aumento de impostos" @marchezan_ na @RdGaucha #marchezan45
— Nelson Marchezan Jr (@marchezan_) September 16, 2016
Essa posição, até então muito enfática, já vinha de tempos. Em 2015, quando era deputado federal, chegou até a fazer acusações veladas aos que se valiam do aumento da carga tributária como instrumento para buscar o equilíbrio das contas. É provável que, na época, Marquezan estivesse se referindo ao então governo de Dilma:
Com dinheiro envolvido, governo aprova até aumento de impostos em época de inflação e desemprego. Quantos milhões a base deve ter faturado..
— Nelson Marchezan Jr (@marchezan_) June 25, 2015
Como se pode notar, as coisas mudaram de lá para cá. Agora no poder, e diante de contas públicas no vermelho, Marchezan encampou uma pauta que vai na contramão de sua pregação anterior. Por três anos consecutivos enviou ao Legislativo municipal de Porto Alegre projetos de lei buscando a atualização da planta de IPTU e a ampliação das faixas de alíquotas. No processo, se afastou de antigos apoiadores liberais, como o vereador Ricardo Gomes, que deixou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico por divergências em relação à proposta. Durante a votação em que o texto do Executivo foi finalmente aprovado, todos os que estavam nas galerias da Câmara de Vereadores protestando eram antigos eleitores de Marchezan.
O fato é que o governo municipal em uma pauta altamente desgastante para tentar responder ao problema financeiro da administração. Sacrificou o discurso, os votos e parte dos aliados. Com altos índices de rejeição, Marchezan foi para o tudo ou nada, mas obteve a vitória. Agora terá que justificar a medida respondendo com ações concretas. A cidade, que se encontra em situação deplorável, precisa de investimentos urgentes. Com a atualização do IPTU, o prefeito não tem mais desculpa nenhuma.
Foto: Joel Vargas/PMPA