Com toda a clareza
Alunos que estão concluindo o ensino médio perguntaram a este colunista por e-mail: o que prefeitos e vereadores deverão fazer ao serem empossados em 2021?
A resposta que enviarei hoje:
Primeiro: precisam aprender a dizer “não”. Função pública não é só uma caixa de bondades. Gastos indiscriminados e irresponsáveis, assumidos sob pressão de grupos organizados, levaram à falência de municípios, estados e do País. Atender a todos os pedidos, querendo parecer os bonzinhos, provocou endividamentos brutais. Dentro de três dias, o placar eletrônico jurometro.com.br atingirá 200 bilhões de reais. Valor pago desde 1º de janeiro deste ano para rolar a imensa dívida do governo federal. É um dos inúmeros exemplos que dão a noção dos descalabros. Dinheiro que sai do bolso de cada brasileiro e que deveria ter melhor destinação.
O que é condenável
Segundo: os eleitos não devem praticar a demagogia personalista, o destempero calculado, a cenografia circense e o narcisismo.
Outra prática costumeira é esganiçar bravatas, exibindo bufonarias estridentes, apelando para o alarmismo artificial, extemporâneo e provocador. Não somam nada.
Filtro necessário
Terceiro: só não podem vencer os despreparados, os corruptos, os aventureiros institucionais e os campeões do despautério. São os piores.
Receita
Acrescentarei para os alunos o trecho da crônica de Vittorio Medioli, diretor do jornal O Tempo, de Belo Horizonte, publicada ontem:
“O candidato a um cargo eleitoral, no período que antecede a eleição, aquele que, sem honestidade, conteúdo, proposta, experiência, propósito decente, visão e consciência do que o aguarda, não raramente adota meios abjetos para alcançar seu propósito. Mente, frauda, difama os adversários, escondendo-se atrás de atitudes mesquinhas.”
Medioli é também prefeito de Betim, Minas Gerais.
Efeito da pandemia
Muitos especialistas consideram o ano escolar perdido com prejuízos irreversíveis. Vai se refletir no Índice de Competitividade Global de Talentos. No ranking mundial do ano passado, o Brasil ficou em 80º lugar. Em relação à America Latina e Caribe, não passou do 11º lugar, atrás de Chile, o melhor classificado, Argentina e México.
Resta lamentar
A formação deficiente nos níveis fundamental e médio chega ao ensino superior. Levantamentos do governo federal mostram que 35 por cento dos universitários brasileiros têm dificuldades em lidar com pensamentos complexos, gráficos e quantidade de informações numa frase. Desafio a mais para o novo ministro da Educação, Milton Ribeiro. Espera-se que não enfrente percalços dos anteriores.
Passo de tartaruga
O governo federal destinou 506 bilhões de reais para combater a pandemia. A aplicação das verbas não passou 216 bilhões de reais. Os dados são do Siga Brasil, plataforma de transparência orçamentária do Senado, provando que a burocracia no poder público é insuperável.
Futuro cruel
Relatório divulgado pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, trouxe dados sobre os impactos da pandemia na América Latina e no Caribe. O número de desempregados atingirá 44 milhões de pessoas, com aumento de 18 milhões em relação ao registrado em 2019. No Brasil, a taxa de pobreza extrema (menos de 340 reais por mês) irá de 5 para 9,5 por cento da população.
Inquieto
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, não dispensa a chance de criar uma intriga. Agora, ataca de forma equivocada o Exército. Em meio à maior tragédia da história do país, poderia se conter, deixando de provocar mais um foco de incêndio.
No bolso
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo subirá 0,40 por cento até o final deste mês, impulsionado principalmente pela continuidade da pressão da inflação dos combustíveis. A expectativa é de analistas do setor. A Petrobras anunciou várias rodadas de reajuste nos preços das refinarias de maio ao início de julho, que acabam transferidas aos consumidores.
Em junho, a elevação foi de 0,26 por cento. Abril e maio houve deflação de 0,31 e 0,38 por cento.
Repassa a conta
O governo federal cogita recorrer ao artigo 148 da Constituição, que permite instituir empréstimo compulsório para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública. Atingiria parcela da população com renda maior, ainda que o valor não tenha sido definido. Cabem observações:
1ª) os que emprestarem já sabem que o dinheiro não voltará. Daqui cinco ou seis anos, em uma sessão noturna, os congressistas aprovarão uma lei para isentar o governo da devolução.
2ª) Quando a situação aperta, o governo avança no bolso alheio e esquece de cortar itens de suas despesas desnecessárias. É tradição.
Para não sucumbir
O governador João Doria anunciou o maior afrouxamento à quarentena no Estado de São Paulo desde maio. Apenas as regiões de Araçatuba, Campinas, Franca e Ribeirão Preto permanecem com o grau de restrição máxima.
A decisão leva em conta um novo lema: a Economia parada também mata.
Conferir a temperatura
Institutos de pesquisa, que gostam de prever o futuro, devem perguntar: de zero a dez, qual o grau de atenção que as eleições municipais provocam neste momento?
Danos da comunicação
Sugestão de leitura: “Os Engenheiros do Caos: Como as Fake News, as Teorias da Conspiração e os Algoritmos Estão Sendo Utilizados para Disseminar Ódio, Medo e Influenciar Eleições”. Autor do livro: Guiliano Da Empoli. Tradução de Arnaldo Bloch.
Incontestável
“Uma mentira pode dar a volta ao mundo no mesmo tempo que a verdade leva para calçar seus sapatos.” (Escritor Mark Twain).
Conhece
O vice-presidente Hamilton Mourão conhece a Amazônia não por ter ouvido falar. Ao longo da carreira militar, comandou a 2ª Brigada de Infantaria de Selva, em São Gabriel da Cachoeira. É uma das mais duras provas a que um militar se submete. Por isso, foi nomeado presidente do Conselho da Amazônia.
O que fará
O Senado realizará amanhã, a partir das 16h, audiência por vídeo com o general Mourão. Vão tratar das ações do governo federal para enfrentar o desmatamento na Amazônia, um das questões mais polêmicos dos últimos anos.
Falar e ouvir
Nesta segunda-feira, a partir das 16 horas, a Comissão Externa da Câmara dos Deputados, destinada a acompanhar o enfrentamento à Covid-19, realizará audiência interativa para avaliar a situação no Rio Grande do Sul. O encontro poderá ser acompanhado pelo E-democracia.
Há 60 anos
A 13 de julho de 1960, o senador John Kennedy foi escolhido candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos. Com votos de 409 delegados, derrotou Adlai Stevenson, o mais forte adversário, que não passou de 79.
Derrota dos republicanos
A 8 de novembro de 1960, Kennedy foi o 1º colocado, vencendo o republicano Richard Nixon em uma das eleições mais disputadas do século 20. No voto popular nacional, Kennedy ficou com 49,7 por cento contra 49,5% do concorrente. No Colégio Eleitoral ganhou com 303 votos contra 219. Eram necessários 269.