Essa semana foi eivada de notícias positivas para a economia brasileira. Entre elas o corte na taxa de juros, que caiu para o menor patamar em três décadas: 6% ao ano. A tendência, já deixou bem claro o Copom (Comitê de Política Monetária), é de que novos cortes podem ocorrer no futuro imediato, o que serviria como estímulo para a economia. Ao mesmo tempo, o desemprego caiu 0,7% em relação ao primeiro trimestre de 2019, número que deve ser comemorado. Tudo isso na esteira da aprovação da Reforma da Previdência, que criará as condições fiscais para outras modificações na estrutura pública do país.

Como se nota, o governo tem realizações a mostrar. O problema é que Jair Bolsonaro prefere se apegar as polêmicas inúteis do que realmente explorar a pauta positiva. Ele mesmo disse que “é assim”, tentando justificar o festival de boçalidades que enfileirou nas últimas semanas. São tantas que é difícil catalogar. A última é relativa ao pai do presidente da OAB, que despareceu em circunstâncias jamais explicadas durante a ditadura militar. Bolsonaro fez uma referência gratuita a ele enquanto reclamava da atuação da OAB no caso de Adélio Bispo: “Se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto para ele”. A reação veio. A pergunta é: pra que Bolsonaro fez isso?

Não foi a mídia que inventou o debate sobre os desaparecidos políticos, ainda que os bolsonaristas gostem de ver nela um inimigo a ser combatido. Muito pelo contrário, até então o enfoque do jornalismo eram as investigações da Polícia Federal sobre a quadrilha de hackers de Araraquara, suspeita de invadir o celular de Sérgio Moro e de outras inúmeras autoridades da República. O grupo havia sido emparedado, assim como Glenn Greewald, que publicou em seu site o conteúdo obtido através do hackeamento. Tudo isso, entretanto, sumiu do noticiário quando o presidente incitou um debate sobre as mortes na ditadura militar.

Na votação da Reforma da Previdência, a oposição não conseguiu reunir os votos necessários para impedir o prosseguimento do texto. PT, PSOL, PDT, PSB e PCdoB estão isolados no Congresso. Nas ruas, a não ser na manifestação em favor da educação, o substrato de apoio tem sido irrisório. “Lula livre” deixou de ser uma movimento para virar um chavão cansado, quase anedótico. No momento, a esquerda não tem força para impedir o governo de fazer o que bem entender.

O que fica claro é que a única oposição consistente a Jair Bolsonaro é ele mesmo. O presidente, como ninguém, consegue tirar o foco de suas boas ações e partir para assuntos desgastantes. O período de recesso parlamentar era uma boa oportunidade para azeitar a articulação interna de seu governo, mas ele preferiu desperdiça-lo para exercitar a verborragia irresponsável.

Por Guilherme Macalossi

Foto: José Cruz/Agência Brasil

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