| Alice Ros |

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou nesse domingo (17), em votação unânime, o uso emergencial das vacinas CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, e AstraZeneca, da Universidade de Oxford em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), contra a Covid-19. Ambos imunizantes são os primeiros aprovados no Brasil.

A reunião para decidir a aplicação emergencial durou cinco horas. Três áreas técnicas apresentaram dados e resultados de cada imunizante. A Gerência-Geral de Medicamentos, primeira área a apresentar, avaliou aspectos relacionados aos estudos clínicos e à segurança. Depois, a Gerência-Geral de Inspeção e Fiscalização, responsável por analisar os locais de fabricação da vacina, e a Gerência de Monitoramento, que analisou se os voluntários tiveram reações, também recomendaram a aprovação das vacinas. Ao todo, 50 profissionais participaram da análise.

Após, a diretora da Anvisa e relatora dos pedidos, Meiruze Sousa Freitas, votou pela aprovação da AstraZeneca e, com ressalvas, da CoronaVac. 

A decisão final foi determinada pelos diretores Romison Rodrigues Mota, Alex Machado Campos, Cristiane Rose Jourdan Gomes e Antonio Barra Torres, que é diretor-presidente da Anvisa. Para ser aprovada, cada vacina precisava de três votos favoráveis. Todas foram aprovadas por maioria dos votos.

No caso da CoronaVac, a diretora da Anvisa submeteu a aprovação à assinatura de termo de compromisso, publicado ainda no domingo no “Diário Oficial da União”. Nele, o Instituto Butantan prometeu que apresentará, até 28 de fevereiro, resultados sobre a imunogenicidade da vacina. Ou seja, a capacidade do imunizante de estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos.

Ao anunciar o resultado, o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, frisou a necessidade de manter os protocolos de segurança, mesmo com a chegada da vacina aos municípios. “A imunidade com a vacinação leva algum tempo para se estabelecer. Portanto, mesmo vacinado, use máscara, mantenha o distanciamento social e higienize suas mãos. Essas vacinas estão certificadas pela Anvisa, foram analisadas por nós brasileiros por um tempo, o melhor e menor tempo possível. Confie na Anvisa, confie nas vacinas que a Anvisa certificar e quando ela estiver ao seu alcance vá e se vacine”, disse.

O pedido de uso emergencial protocolado pelo Instituto Butantan corresponde a seis milhões de doses importadas da CoronaVac. Já o pedido da Fiocruz é relacionado a duas milhões de doses a serem importadas do laboratório Serum, da Índia. A vacina de Oxford, porém, ainda não tem data definida para chegar ao Brasil. 

De acordo com o Ministério da Saúde, as vacinas serão usadas no Sistema Único de Saúde (SUS) e, inicialmente, serão aplicadas para imunizar pessoas de grupos de risco, como indígenas, idosos e profissionais de saúde.

Vacinação começa nesta segunda-feira, garante governador Eduardo Leite

Em cerimônia simbólica realizada hoje (18) no Centro de Distribuição Logística do Ministério da Saúde, em Guarulhos (SP), a vacina CoronaVac começou a ser oficialmente distribuída entre os estados brasileiros. De acordo com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que esteve presente no evento, 341 mil doses devem chegar ao Estado. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, também esteve presente.

Em vídeo publicado nas redes sociais logo após a decisão da Anvisa, Leite afirmou que o Estado está preparado para receber as primeiras doses da vacina. 

“Nós já temos a nossa rede de frios devidamente preparada com os equipamentos que armazenam as vacinas, as seringas agulhadas já distribuídas nas regiões de saúde e,também, a logística, o transporte para levar a vacina às dezoito regiões de saúde do Estado. Tudo devidamente planejado para iniciarmos, assim que as vacinas chegarem aqui no Estado, a imunização da nossa população”, frisou o governador. 

Segundo Leite, a aplicação da vacina deve começar nesta segunda, após 17h, horário autorizado pelas autoridades nacionais. A vacinação no Rio Grande do Sul deverá começar no Hospital de Clínicas, com uma funcionária da linha de frente do combate à Covid-19. 

“Ela é a chance de salvar vidas”, diz primeira vacinada contra Covid-19

A enfermeira Mônica Calazans, 54 anos, foi a primeira brasileira a receber uma dose da CoronaVac, em São Paulo. Logo após a aprovação das vacinas em caráter emergencial, Mônica recebeu, ao lado do governador João Dória (PSDB), a aplicação do imunizante. Ela foi vacinada no Hospital de Clínicas de São Paulo pela enfermeira Jéssica Pires de Camargo, 30 anos, que atua na Coordenadoria de Controle de Doenças e é mestre em Saúde Coletiva pela Santa Casa de São Paulo.

Em entrevista coletiva, Mônica, que trabalha na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital Emílio Ribas e que participou dos testes da CoronaVac, disse que “essa é nossa grande chance” e pediu à população que não tenha medo da vacinação. Ela é considerada do grupo de risco por ser obesa, hipertensa e ter diabetes.

“Sou uma pessoa comum, trabalhando incansavelmente há 10 meses, falo com segurança e com propriedade. Não tenham medo. É a grande chance que temos de salvar mais vidas. Vamos nos vacinar”, afirmou.

“Quantas pessoas têm receio de chegar próximo às outras pessoas? Eu tomo ônibus, metrô, as pessoas têm receio de chegar perto de você. Então, povo brasileiro, essa é nossa grande chance”, disse, afirmando que tomou coragem para participar do estudo após quase perder o irmão.

“Eu quase perdi um irmão para a Covid. Diante disso, tomei coragem e participei da campanha da vacina. No início, fui muito criticada. Falaram que eu era cobaia de uma pesquisa de vacina. Aprendi com uma pessoa no dia da vacinação que sou participante de pesquisa e estou muito orgulhosa de tudo isso, porque meu nome está no mundo inteiro”, alegou.

A vacinação promovida pelo governo de São Paulo foi alvo de críticas do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Também em coletiva de imprensa, Pazuello disse que o Ministério da Saúde poderia “num ato simbólico ou numa jogada de marketing, iniciar a primeira dose em uma pessoa, mas em respeito a todos os governadores, prefeitos e todos os brasileiros, o Ministério da Saúde não fará isso”.

Pazuello também definiu como “desacordo com a lei” a ação, já que, segundo o ministro, as doses de CoronaVac serão distribuídas proporcionalmente aos estados nesta segunda-feira (18) e que “qualquer movimento fora desta linha está em desacordo”.

Dória respondeu às críticas do ministro alegando que a pesquisa e o desenvolvimento da CoronaVac não tiveram qualquer incentivo econômico do Ministério da Saúde e classificou como “inacreditável” a postura do ministro.

“Ele diz que as vacinas foram compradas com dinheiro do SUS e não com dinheiro do governo de São Paulo. É inacreditável como o ministro da Saúde, sem ser médico, um desastre completo, ainda mente. A vacina do Butantan só está em São Paulo e no Brasil porque foi investimento do governo do estado de São Paulo. Não há nenhum centavo, nem para estudo, pesquisa, nada, do governo federal. Seja honesto, chega de mentiras”, disse Dória.

Segundo o governador de São Paulo, serão enviadas 50 mil doses da vacina produzida pelo Instituto Butantan aos profissionais da saúde do Amazonas. “Um avião levará 50 mil doses da vacina, independentemente da cota do Ministério da Saúde, para os profissionais da saúde do Amazonas”.

Foto: Divulgação/Governo do RS

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